A gente tem mania de se meter na vida dos outros. E desejar na vida do outro. E querer que a vida do outro seja x y z. Querer que o outro faça isso e aquilo porque esse aquilo é o certo. É do ser humano.
Ok, pode ser legal até certo ponto. De alguma forma é empatia. É você, desejando ao outro aquilo que julga ser bacana. Tem certa fofura nessa ideia.
Você, gestor de pessoas AND ser humano, que quer dar conta de tudo, da vida de todos. Quer saber da fofoca, quer dizer o que é certo e o que é errado… No entanto, não esqueça: você tem uma relação de poder com seu liderado. Mesmo que você não seja coercitivo e unilateral, o simples fato de você ter uma hierarquia de trabalho acima, já estabelece relação de poder.
E digo outra: você sabe mesmo o que é certo e errado? É você mesmo o detentor desse conhecimento? Sob qual ângulo? Baseado em que? Em sua forma específica de ver o mundo, em seus valores, que não necessariamente é o de todos ou o mais aceito, concorda? Cuidado com o dono da verdade! Que não seja você!
Já vi líderes com fortes ideias de certo e errado adquiridas em Igrejas conservadoras defenderem formas de viver bem específicas, que interferiam até no jeito de vestir. Imagine esses líderes trabalhando com pessoas liberais, poligâmicas, ou que convergem com crenças de religiões de matriz africana! Imagine o risco que esse líder corre e as possibilidades múltiplas de ser mal interpretado ou pior, de interpretar mal o outro profissional, que diverge de seus valores. Pior, quando você expõe isso ao outro, pode parecer uma cobrança.
Você precisa ter um nível de conexão altíssima para opinar na vida do outro sem ser chamado. Lembre: você é o líder daquela pessoa e nessa relação, opinar na vida do outro será sempre arriscado.
Em contrapartida, eu sei, falta muito às novas gerações que estão entrando no mercado uma orientação sobre profissionalismo, postura, comportamentos. Orientações até de vida. Muitas vezes o profissional novo, sem muita orientação, precisa de um suporte e caberá a você se arriscar. Não há problema em se arriscar. O que não pode é você não conhecer os riscos que corre, não conhece os vieses que existem.
Atualmente, com as múltiplas formas de enxergar o mundo e viver a vida, é bastante arriscado você querer dar pitaco na vida do outro quando não for chamado. Eu morro de medo porque sei que tenho enorme potencial pra isso, sou espaçosa e cheia de opinião. Não à toa virei mentora… pra dar pitaco e orientação profissionalmente a quem pedir e cobrando por isso. Pelo menos estará claro que o outro está pedindo orientação e sabe que virá de mim, ou seja, com as lentes da minha percepção de mundo, minha experiência e minha história.